sábado, 12 de março de 2016

Sobre frangos e moelas e as lições da vida



Bom, hoje estive no mercado com a Gabriela. Lá, a gente comprou isso, aquilo, bifes, coisas boas, comida para mais de mês. Bem mais. A geladeira ficou cheia... Coisa boa...

Porém, a coisa não acabou aí... Deveria. Mas não.

Quando estava no mercado, fiquei observando as coisas, os produtos, os preços, e vi que as coisas mais baratas no açougue eram a moela, e o pé de frango...

E daí??

Foi daí que eu comecei a lembrar da minha infância. Do meu passado. Dos dias que eu vivi... Basicamente, eu tive uma infância boa. Eu não era fui uma criança pobre, numa família pobre, que passava necessidades.

A gente comia queijo e presunto e nescau e sucrilhos. Moramos num bairro bom, e acreditem, a gente tinha videogama, se divertia na PlayLand e almoçava regularmente na Fogo de Chão. E tudo isso com certa naturalidade. Sem a pompa que essas coisas teriam hoje. Meus pais proporcionavam essas coisas pra gente... Resumidamente, a vida era boa...

Mas, regularmente também, a gente ia almoçar na casa das minhas avós. Isso é natural. Toda família faz.

Nos últimos tempos, talvez pelo seu falecimento, eu tenho lembranças recorrentes sobre a rotina na casa da minha avó Maria. Provavelmente isso se deve à sua passagem. Provavelmente por conta da doença do meu avô, provavelmente porque a gente morava próximo e tinha contato diário, ou provavelmente por tudo isso somado.

E na casa da minha avó Maria, eu lembro que a gente comia macarrão, e ela acompanhava com pé de galinha. Quase sempre era isso. Macarrão com pé de galinha, ou macarrão com moela. E a gente comia, e a gente gostava.

Hoje em dia as pessoas veem a moela com certo nojo. Com desdém.

E eu continuo pensando, refletindo, tentando simular o dia a dia dela na minha cabeça, tendo como linha de raciocínio um cara de 34 anos, e não uma criança. Tentando me colocar lado a lado com ela.

E eu penso, sabe. A única coisa que ela podia proporcionar para nós, era a coisa mais barata do açougue. Ela era pobre. Ela tinha limitações que a gente não via. Ela dizia brava: "Ninguém come o pé. Ele é meu."

Ela não comia as coisas boas, ela dava o que ela tinha de melhor para a gente, e ficava com o que (e se) sobrava.

Ali naquela cozinha, sem saber, ela nos dava aulas que só entenderíamos muitos anos depois. E eu penso que serei sempre grato à Irmã Maria, que era como eu a chamava, por cada dia, cada experiência, cada lição, e cada moela que eu comia...

A minha irmã Maria nunca foi MasterChef. Ela não tinha livros de receitas e segredos culinários para passar entre as gerações, mas ela me ensinou muito sobre a vida. Sobre se dar. Sobre colocar a satisfação do outro antes da sua. Sobre ser avó, mãe e sobre ser filho e ser neto. Sobre solidariedade, sobre doação.

Onde estiver, esteja na paz do Senhor, irmã!!!

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Nota de Rodapé

E eu fico pensando.... Pensando... Respeite as pessoas. Respeite as histórias de cada um. Respeite as posições de cada um. Ouça as pessoas. Entenda as vidas de cada um. Vocês não imaginam, mas cada um ser tem uma história, um sofrimento, um fantasma dentro de si...

E uma outra coisa... Viva. Viva a sua vida. Abrace as pessoas. Diga que gosta delas. Leva presente. Chocolate alpino. A vida passa e só ficam as lembranças... Então, que sejam boas lembranças...
















Um comentário:

  1. Essa história fala no íntimo pra mim. Não só pela reflexão, mas por eu conhecer bem o que foi dito. Que bom que postou!

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